A evolução dos preços fez com que a grande maioria dos salários mínimos europeus perdesse terreno em relação ao custo de vida. Em 21 Estados-Membros com salários mínimos legais, apenas seis garantias reais aos trabalhadores. Incluindo Portugal.
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A avaliação é feita pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound) no já publicado relatório de revisão anual sobre a evolução do salário mínimo nacional (SMN) em cada país.
De acordo com o estudo, o aumento de 6% do salário mínimo em Portugal em 2022, de 665€ para 705€ no início do ano, resultou numa melhoria de 2,5% dos salários reais, sendo os dados registados homólogos desconsiderados de janeiro inflação no Índice Harmonizado de Preços no Consumidor.
Além de Portugal, apenas Hungria, Croácia, Roménia, Lituânia e Estónia, todos os países com níveis de inflação mais elevados no início deste ano, garantiram um crescimento real do salário mínimo.
Na Hungria, um aumento de 19,5% no valor nominal do salário mínimo resultou em um aumento real de 11,5%, o quarto salário mínimo mais alto da União Europeia, equivalente a 542 euros por mês.
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Apenas um país não aumentou o salário mínimo em 2022, a Letônia. A maior perda para os empregados foi na Holanda, entre outros: um aumento de 2,4% significou uma perda real de 4,9% no terceiro salário mínimo europeu mais alto de 1725 euros por mês.
Portugal, por outro lado, surge em 2022 com o nono subsídio mínimo mais elevado do bloco, ultrapassando Malta quando se consideram os 14 subsídios mensais pagos no país (o subsídio de 12 meses é de 823€). O ranking europeu é liderado pelo Luxemburgo (2257 euros) e termina com a Bulgária (363 euros).
Mas já em 2023 não deverá haver crescimento real do salário mínimo português. O governo planeja aumentar para 750 euros, um crescimento de 6,3% que pode ser superado pela inflação. Em maio, os preços portugueses já subiam 8% em termos homólogos.
A evolução dos salários e pensões num contexto de inflação acelerada foi o esteio do discurso do primeiro-ministro António Costa na cimeira CNN-Portugal, ontem. O chefe do Governo reiterou a meta de um aumento de 20 por cento dos salários médios até 2026, que será discutido num acordo de rendimento e competitividade que o executivo prevê concluir com os parceiros sociais até outubro.
Em relação à atualização dos salários do setor público, o governo ainda não se compromete com o aumento da inflação em 2023. “Mantém-se o princípio da atualização anual. Não vamos congelar as carreiras. Vai acontecer no ano que vem. Qual é a quantidade? Vamos negociar com os sindicatos”, disse António Costa.
2% mais produtividade, enfatiza Centeno
Sobre o mesmo assunto, quando questionado sobre os limites de uma atualização sem risco de maiores pressões inflacionistas, o Governador do Banco de Portugal e ex-ministro das Finanças Mário Centeno propôs uma atualização de pelo menos 2%, em linha com as metas. Política monetária do Banco Central Europeu (BCE), à qual se somariam os ganhos de produtividade Evento.
“O princípio das actualizações anuais (no sector público) será mantido. (…) Qual é o valor? Vamos negociar com os sindicatos”, disse ontem o primeiro-ministro António Costa.
“O crescimento salarial, em linha com a meta de médio prazo do BCE, aliado aos ganhos de produtividade, não exerce pressão baixista sobre a inflação”, defendeu o presidente do Banco de Portugal, Mário Centeno.
Para 2022, o programa de estabilidade prevê um aumento de produtividade de 3,7%, que desacelerará para 2,6% no ano seguinte.
A evolução das pensões foi também abordada por António Costa, esperando o primeiro-ministro um aumento “histórico” dado pela fórmula de atualização automática das pensões, que tem em conta o crescimento económico e a inflação. “Não há a menor dúvida de que seguiremos a fórmula. Leis são feitas para serem obedecidas.”
No próximo ano, o aumento do PIB deverá garantir aumentos acompanhados da inflação para todas as pensões até 5.318,40 euros, com um bónus do crescimento económico para as pensões de valor inferior até 2.959,20 euros.