Espera-se que Portugal experimente uma nova onda de crescimento muito rápido do turismo este ano e no próximo, mas a criação de empregos associada provavelmente será mais fraca do que no passado, diz a Comissão Europeia (CE) nas previsões da primavera divulgadas ontem.
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Além disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) destacou ontem o papel do setor na recuperação na avaliação anual do país (artigo IV), esperando que o turismo se recupere totalmente da pandemia em 2023.
Segundo a Comissão Europeia, “os Estados-Membros com forte presença no turismo registaram uma tendência ascendente na balança de serviços [o turismo estrangeiro é considerado uma exportação] em 2021, que deverá continuar em 2022 e 2023″.
De acordo com as contas de Bruxelas, “os maiores aumentos projetados do excedente de serviços entre 2021 e 2023” deverão ocorrer na Grécia (+4,1 pontos percentuais ou pp), Espanha (+3,2 pp) e Portugal (+2,9 pp). .
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A Estônia também aumentará fortemente o excedente de serviços, mas isso não se deve tanto ao turismo, mas às exportações de alta tecnologia.
“Esta tendência deverá moderar o declínio da balança comercial de mercadorias em 2022 e amplificar o seu aumento em 2023 na maioria dos países do sul da Europa onde o turismo internacional desempenha um papel importante na economia”, observa a CE.
Nas novas previsões, Portugal parece estar bem posicionado face aos seus concorrentes europeus. Para este ano prevê-se um crescimento (revisto em alta) da ordem dos 5,8%, o que significa que a economia portuguesa poderá mesmo acelerar face a 2021 (cresceu 4,9% no ano passado) e assim a Europa (UE a 27 países) tem a maior taxa de recuperação.
Para a Comissão, “depois de um forte início de ano, o PIB [produto interno bruto] de Portugal deverá aumentar 5,8% em 2022, uma vez que o sector dos serviços, particularmente o turismo emissor, deverá recuperar fortemente a partir de uma base baixa.”
Recorde-se que em 2020 e em parte em 2021, o turismo foi quase travado pela pandemia e severas restrições de negócios e viagens.
No entanto, apesar da exuberância esperada para o setor, a CE diz que não haverá impacto desta magnitude no emprego e o desemprego continua a cair, mas a um ritmo mais lento.
De qualquer forma, a CE diz que o desemprego pode ser mais barato do que as previsões do governo. Bruxelas aponta para uma taxa de desemprego equivalente a 5,7% da força de trabalho, contra 6% no cenário financeiro para 2022. Em 2023, a taxa de desemprego deverá diminuir ligeiramente para 5,5%, disse o estudo da primavera.
A criação de empregos poderia ser mais suave, diz a CE. A previsão para este ano é que o emprego nacional aumente 1%. As contas do Terreiro do Paço dizem 1,3%.
Por exemplo, uma das explicações apresentadas por Bruxelas é que, apesar de um salto econômico de quase 6% este ano, “a retomada do turismo estrangeiro deve gerar mais homens-hora do que novos empregos”.
“Acredito que a reabertura do turismo português num país assente mais no turismo externo do que no interno também desempenhou um papel importante na elaboração das novas previsões de crescimento”, sublinhou Paolo Gentiloni, Comissário da Economia da UE, antes da conferência de imprensa que teve lugar ontem em Bruxelas.
Mais inflação, mas a mais leve da Europa
A previsão de inflação de Portugal para este ano foi revisada em alta em relação a fevereiro (de 2,3% para 4,4%), mas está visivelmente abaixo da média da zona do euro. De qualquer forma, o fenômeno pode atrapalhar e enfraquecer a recuperação se persistir, por exemplo, elevando as taxas de juros e corroendo o poder de compra.
Os aumentos médios de preços na zona do euro devem ser de 6,1%, três vezes a meta do Banco Central Europeu de 2%. A pressão para aumentar as taxas de juros é, portanto, grande e crescente.
Em relação a Portugal, a CE reitera que inflação elevada deve ser temporária, “deverá atingir o pico no segundo trimestre deste ano e moderar-se gradualmente a partir daí [de junho]”. Em 2023, a inflação projetada é de cerca de 1,9%.